
8 dezembro, 2025José Justo Deixe um comentário
Em 1996 provocamos uma discussão sobre onde estaria o futuro. Demos ao evento o nome de “Hotel Seminar”. Éramos um grupo de “novatos” em um sindicato que ainda não sabia para o que servia, discutindo o futuro que afetaria o presente e construiria o passado.
Ficou confuso?
A idéia que parecia estapafúrdia, vinha da Universidade Central da Flórida de Orlando, USA, trazida pela The Virtual University, uma marca-fantasia do Orlando International Institute for Advanced Education, proposta do Professor Richard Russemann, do executivo J. Wayne Jones e do Jonathas Moreira, brasiliano que vivia na Flórida como professor e pastor presbiteriano.
Ficou mais confuso ainda?
Sim, mas, essa foi a digressão do Vice-Presidente da Disney Robert Wacker, no púlpito do Teatro Elizabeth Rosenfeldt, quando nos passou algumas premissas sobre como criar, desenvolver e preservar:
⁃ A cultura
⁃ A imagem
⁃ A fortuna
Quase ao mesmo tempo, o former President da Coca-cola, Joseph Wayne Jones colocou nossos pés na terra quando disse o que aqueles três elementos virtuais (virtual no sentido que eram virtudes), precisariam ter para se tornar realidades fortes:
⁃ Os acessos
⁃ A mobilidade urbana
⁃ A escola
Os 3 intangíveis:
Bob Wacker discorreu que a cultura que um lugar vende para o mundo precisa ter esteios e sugeriu que a cidade usasse elementos que ela já se destacava:
- as flores,
- a arquitetura e
- a comida.
Segundo ele, as flores são a primeira representação da felicidade, do belo e das cores. “As flores nos seguem pela vida toda”, filosofou.
A arquitetura é a primeira das artes, que pode fazer um grupo humano se destacar como criador, por formar conjuntos harmônicos e práticos. “A arte é a expressão do belo”.
A comida é a primeira expressão de uma cultura, por isso, quando se fala em cultura, uma das primeiras imagens que vem à mente, são os pratos daquele conjunto: Japão-sushi, Portugal-bacalhau, Espanha-paella, Itália-macarrão, Arábia-quibe, Suíça-Fondues, Brasil-feijoada, Rio Grande-churrasco… Por isso, ele sugeriu que a cidade buscasse um prato que fosse sua “Pièce de résistance”. Essa sugestão despertou o empresário Gilberto Tomasine para criar a sequência de fondue, algo até então inexistente no mundo, ou pelo menos, desconhecida do país.
Sequencia nao é rodízio:
Em oportunidades posteriores, visitamos os países onde esse prato se originou e era popular, como a Suíça, França, Alemanha, Bélgica e Luxemburgo, e não havia a prática de servir “sequência de fondue”, misturando queijo com pão dormido, carne frita com molhos e chocolate com frutas. O fondue neste modelo tornou-se o sinônimo de Gramado, que, 30 anos depois, tem mais de 50 casas servindo o mesmo prato e, não raro, com fila na porta. Palmas para o Beto Tomasine!
Os 3 tangíveis:
Para Jones, a estrada que leva ao aeroporto e o aeroporto que leva a origem do turista são os elos que fazem o Pólo de Turismo ser viável.
As ruas da cidade precisam ser tão atrativas quanto as lojas, calcadas e sinalizações, por isso elas não podem ser sujas, mal cuidadas ou perigosas. Ele pediu para educar o povo e, por consequência, os motoristas educariam os carros os pedestres.
Durante suas 2 caminhadas entre o teatro do Serrano e o Restaurante Garden Grill, ele detectou que algumas edificações pareciam fora do lugar, para o futuro que ele havia sentido pelas palavras dos jovens empreendedores da época: um milhão de turistas. Ele, imageneering, descreveu: “daqui há algum tempo vão criar uma fila descomunal de carros para concorrer com essas senhoras que trazem crianças para as escolas, com essas pessoas que trabalham e visitam a prefeitura e com essas pessoas que usufruem dos postos de saúde”, descreveu. Em seguida ele sugeriu para um secretário boquiaberto: “não precisa fazer mais ruas, túneis ou viadutos, basta tirar as pessoas dali”.
Em parte isso ocorreu: a delegacia de polícia saiu da Rua Garibaldi e foi para uma edificação muito mais moderna e prática, o centro de cultura foi para uma instalação meritória, o posto de saúde, que tinha goteiras e não tinha estacionamento, saiu para dar lugar a um charmoso hotel-butique e foi para uma casa condizente, mais perto das moradias dos seus usuários, o fórum, justiça e a APAE também se foram para lugares melhores, mais acessíveis e em edifícios apropriados, construídos para esses fins e com capacidade de suportar a futura demanda.
Fora de lugar:
Ficaram para trás a prefeitura, o hospital e os colégios. Estes 3 segmentos estão hoje em prédios velhos, construídos em um tempo em que a saúde predial e das pessoas que os frequentam não recebiam atenção merecida e necessária, suas instalações elétricas e hidráulicas transformam a frequência como se fosse uma aventura digna de meia subida do Everest.
O prédio da prefeitura, por fora é um monumento que desperta atenção de turistas de todos os lugares, porém, tanto “os de casa como os de fora”, fecham em uma opinião: a prefeitura foi engolida pela área comercial e ficou fora de lugar.
O prédio do hospital é mais antigo que a própria cidade. Isso diz tudo. Onde dever-se-ia cuidar da saúde das pessoas, é um prédio defasado e doente.
Os dois colégios que formaram as 5 gerações de cidadãos, estão no lugar errado, em edificações que enfeiam o skyline e tem manutenção sofrível, não por vontade de seus gestores, que são abnegados e dedicados, mas, pela própria natureza das edificações que não estão atualizadas “em tijolo não tem como fazer up-grade”, disse um planejador urbano da Itália em visita a Gramado a convite de uma rede hoteleira nascida na cidade.
Re-Pensando
Em 2014, a EBH produziu um exercício de futuro com 13 jovens da cidade, dos quais 9 não mais são residentes, hoje. Eles se reuniam no mezanino de um bistrô no pátio da igreja católica e de lá observavam a cidade e tiravam conclusões. Esses insights foram escritos em uma pequena coletânea de ideias que ganhou o título de Gramado – Pense 2034” e nela aparecem várias das sugestões que já foram implementadas e três delas ferem os olhos de quem tem essa memória:
Colégio CNEC e Colégio Santos Dumont
Caso uma empresa construtora tomasse a iniciativa, deveria reivindicar um terreno da prefeitura no Bairro Mato Queimado e construir nele um colégio em nível Cambridge e Oxford, com capacidade para 10 mil estudantes desde o berço até o Pós-Doc. O mesmo deveria ser feito com o Setor Local que administra o CNEC. Uma permuta que criaria uma grande mudança nas comunidades envolvidas e representaria uma solução definitiva e libertava um bom volume de stress de quem vive reformado e desmanchando curto-circuitos nos prédios velhos.
Prefeitura
A administração municipal também poderia ir pelo mesmo caminho, mudando-se para um lugar acessível e que permitisse que quem nela trabalha (a prefeitura é o maior empregador do município) e quem a visita por razões de cidadania, tivessem os confortos esperados de acessos, acessibilidade e estacionamento.
Hospital
O Hospital pode até estar no lugar certo. Ele precisaria de um prédio novo, do tamanho da exigência da cidade, que se criasse os acessos e isso é relativamente fácil, basta estudar os mapas e perceber que a Vila Suíça e a estrada estão logo ali, atrás da colina.
Fazendo estás três mudanças, saem 5 mil automóveis por dia do centro da cidade e ela passa a ser transitável, estacionável e agradável para os turistas e para quem seu centro trabalha.
Como nos contou J. W. Jones, no longínquo novembro de 1996, “para construir o futuro, não basta ter dinheiro e tijolos, mas, é preciso ter inteligência, visão e vontade”. E ele também filosofava: “por essas atitudes, isso fará se ter orgulho do passado”
Oportunidade
Por isso, em 2026, caso surja algum protagonista inteligente, com visão e vontade, que faria permutas com os entres da cidade, ela, a cidade, ganharia em qualidade e ele ganharia uma montanha de dinheiro.
Ou vamos esperar vir alguém “de fora” e fazer isso por nós?
O que começou com uma inversão de papéis no tempo, desenhou um futuro com uma população 2 vezes maior, um número de turistas multiplicado por 10 e os desafios que se impõe não precisam ter suas soluções medidas em dinheiro. O exemplo mais recente foi a solução do acesso ao novo aeroporto, onde o valor caiu 9 vezes o projetado, e mais soluções aparecerão, sem precisar colocar a mão no bolso do contribuinte de forma acintosa. Basta usar a inteligência, criar soluções e não apenas ficar viajado para ver como outros povos fizeram e copiar.
O futuro que pode ser construído hoje, vai ditar a forma como as gerações vindouras verão o passado: com orgulho ou com vergonha.
Frontdesk magazine

José Justo.
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