
Existe certa expectativa de uma parcela da população de uma opção política fora da polarização entre Bolsonaro e Lula, um anseio legítimo, ainda que às vezes ingênuo, outras interessado.
O assunto ganhou força com a exibição de pesquisas que revelam que parte significativa dos brasileiros não se identifica com as opções dadas, uma “maioria silenciosa”, que, talvez, diante da prisão de Bolsonaro, possa se fazer ouvir e dar margem a uma candidatura de centro, sem o extremismo e riscos do capitão e sua turma.
Aqui começam os enganos. O que os brasileiros pensam se revela bastante distinto de como os brasileiros votam. Transformados em eleitores, deixam a invisibilidade. Se em 2018 elegeram Bolsonaro e em 2022 a vitória ficou com Lula, as escolhas do eleitor para os governos estaduais e Câmara e Senado foram uma contundente virada à direita mais radical. Talvez por isso as pesquisas errem tanto nas previsões do voto bolsonarista.
João Dória sepultou a direita ilustrada quando vestiu a camiseta Bolsodória para ganhar a eleição em SP e deixou Geraldo Alckmin, do seu partido, o PSDB, com 4% dos votos. O erro político fez que virassem pó, a uma só vez, João Dória e o PSDB, com seus governadores se abrigando no Centrão, em partidos da base bolsonarista, União Brasil, Republicanos, Novo etc.
Neste ponto saímos do território da ingenuidade para o dos interesses. Todos os governadores que se apresentam como alternativa ao Seu Jair encarcerado dependem do voto bolsonarista, ou extremista. Tarcísio, Caiado, Zema, Ratinho. Nenhum deles terá expressão sem o voto do líder da tentativa de golpe. Por isso atacam o Supremo, defendem a anistia e fazem romaria à prisão.
Não se importam em se alinhar com segmentos de interesses que representam o pior do Brasil. O governo Bolsonaro abrigou todos as bancadas organizadas da política: a da bala, a da bíblia, a do agro, a da desinformação. Entregou o país a especuladores, sonegadores, desmatadores, garimpeiros, milicianos, malafaias, augustohelenos e cia.
Acha que é exagero? O Congresso acaba de declarar guerra ao Brasil, impondo prejuízos ao país. A cada votação perdemos a saúde, florestas e alguns bilhões de dólares.
O risco são as concessões que a nossa elite é capaz de fazer para ganhar o voto. Governadores, deputados e senadores do Centrão já escolheram de que lado estão, nenhuma “maioria invisível” vai nos salvar. Seria um bom começo não nos deixarmos enganar sobre isto.

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