Ela ia se recuperar da cirurgia, ganhar forças… e depois seria entregue pra uma família definitiva.

“Você só vai ser lar temporário”, me disseram.

E no começo, eu repeti isso como um mantra:

“Ela não é minha. Só estou ajudando.”

Não brinquei demais.

Não dei nome.

Não deixei subir na cama.

Mas ela não entendeu o aviso.

Me adotou no primeiro dia.

Deitava perto quando eu ficava no computador.

Encostava o focinho na minha perna na hora da refeição.

Ficava em pé na porta quando eu saía, e pulava em festa quando voltava — mesmo que tivesse ficado fora só 15 minutos.

Ela não pediu nada.

Mas foi se encaixando em mim como quem já conhecia meus buracos por dentro.

No dia marcado pra entrega, preparei tudo.

Coleira arrumada, potinho limpo, vacinas em dia.

Avisei no grupo do abrigo: “pronta pra ir.”

A nova família chegou sorrindo.

Trouxeram brinquedo, toalha, caixa de transporte.

E eu me preparei pra dizer tchau.

Mas ela não quis.

Quando viu os estranhos, se encolheu atrás de mim.

Tremia.

E me olhou com aquele olhar que só bicho sabe dar:

sem drama, sem palavras, mas com um pedido desesperado.

Como quem diz:

“Se você quiser… ainda dá tempo.”

E deu.

Mandei mensagem pro abrigo e disse:

“Desculpa. Eu falhei como lar temporário. Ela ficou.”

Logo depois, tirei essa selfie.

Com o rosto inchado de chorar.

Mas o coração inteiro.

Porque ela já era minha antes mesmo que eu aceitasse.

E agora é oficial.

Meu Cachorro é o Bicho

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