
Na porta da Escola Municipal Anita Nogueira, na periferia de Salvador.
Um vira-lata magro, marrom escuro, com olhar cansado e o rabo sempre encolhido entre as patas.
Ninguém sabia de onde veio. Mas todos sabiam por que estava lá.
Dizem que ele seguia um menino. Todo dia. Da casa até o portão da escola. Esperava no mesmo lugar. Quando o menino saía, ia com ele pra casa.
Até aquele dia.
A mãe do menino contou que foi uma bala perdida. O filho morreu no caminho da escola. O cachorro viu. Tentou correr atrás da ambulância. Depois, voltou pro portão da escola. E nunca mais saiu.
Professores tentaram espantar. Os alunos deram apelido: “Professor Fiel.”
Ele não aceitava comida de todo mundo. Só de uma menina da 6ª série. Ela sentava no chão, do lado dele, com um potinho de arroz.
“Ele tá esperando”, dizia. “Mas não sabem que quem ele espera… não volta mais.”
Depois de 15 dias, um professor se comoveu. Levou pra casa.
Hoje, Fiel mora num quintal com duas crianças. Mas toda manhã, vai até o portão e olha pra rua. Como se esperasse aquele mesmo menino sair de casa com a mochila azul nas costas.
E quando volta pra dentro… é como quem aceita que nem todo amor encontra de novo o caminho de volta.
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