Eu caminho com os pés emprestados do chão. No meu rosto não tem aqueles sulcos da velhice carregados de agonias, tem a cisma de cascas de velhas árvores, e o húmus de noites de festa onde estrelas ficam nuas. Sinto os ossos como sinto um poema, atritos teimosos, a resistência dos óleos da vida nas curvas que carregam a minha imaginação. Eu amanheço como antigamente, crendo que um dia o tempo não vai me parar mais, porque o meu rosto de ramagens silvestres vai enganar a precipitação das horas. A velhice decide me deixar caminhar sozinho, porque ela teme as minhas veredas de logo cedo. Eu insisto e vou. Não há mais o que vencer. Caminho pelos desvios que eu escolhi. Depois, escrevo a biografia da minha sombra caminhando na praia, de mãos dadas com o Atlântico!

A fotografia de Sonia Amorim, praia de Ondina, Salvador

Fernando Coelho está com Sonia Amorim.

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